28 de jul. de 2007

Inerte






As bombas nucleares já não me deprimem mais. Atentados, poluição, epidemias e catástrofes não me comovem. O mundo podre, falso, torto, errado, pseudo-evoluído, com suas pessoas idiotizadas, minúsculas e cegas ao menos me provocam incômodo. A indecência humana, nos olhos, na conveniência de não se permitir enxergar um milímetro além da casca, nem isso me afeta.

Enquanto inerte, deixo de ser mais uma vítima de sentimentos reproduzidos para ser vítima da conseqüência dessa massificação. Ontem eu quis me matar. E anteontem, no dia anterior, e em todos os dias pelos últimos meses e anos. Mas cheguei tarde, já estou morto há muito. Vago em espírito, observando imperceptível cenas que não me causam mais que pensamentos sobre a pequenez da limitada existência humana. Há uma lógica desfigurada regendo uma orquestra de surdos, e a música me faz mal aos ouvidos. Parar de ouvi-la traria a paz de que preciso, mas não se pode escolher a cruz, apenas carregá-la.

18 de jul. de 2007

O Silêncio


"I was walking along a path with two friends - the sun was setting - suddenly the sky turned blood red - I paused, feeling exhausted, and leaned on the fence - there was blood and tongues of fire above the blue-black fjord and the city - my friends walked on, and I stood there trembling with anxiety - and I sensed an infinite scream passing through nature."
Edvard Munch

Assim Munch explicou sua inspiração para O Grito, e curiosamente a explicação é bem semelhante à que tenho para nomear este auto-retrato livremente inspirado na pintura clássica de "O Silêncio". Não pela paisagem ou pela natureza, mas por dentro de mim corre um grito que me distorce e deforma e não consigo expressar. Um desespero contido, permanente, sem céus de sangue mas com uma escuridão ainda mais desesperadora à volta. Este sou eu em metáfora. Este é meu eu real por trás da máscara que visto para trabalhar, conviver e viver.