11 de dez. de 2010

5 Minutos

A: Engraçado como o que deixamos de dizer faz mais mal que o que nos escapa sem querer.
B: Oi?
A: É. Como se escondendo a faca eu a machucasse mais do que derrubando-a no seu pé.
B: E que faca é essa que você tem escondida?
A: São tantas que já não me cabem mais. Cada uma que ia aparecendo, querendo ser arremessada, e eu não conseguia., eu me controlava, me forçava ao silêncio em nome de um pacto de não agressão, e calmamente cravava na minha carne, para esconder. De tempos em tempos elas caem, assim, sem querer, e acontece o que aconteceu.
B: Que metáfora horrível.
A: Como?
B: Essa das facas. É horrível. É como se tudo que você pudesse ou quisesse falar fosse uma agressão, que você internaliza.
A: Tudo é uma agressão. Quando eu nego meu impulso, me agrido. Mas quando agrido os outros por ceder aos meus impulsos, arrisca doer ainda mais.
B: Você faz das palavras, facas.
A: Era só uma metáfora. O que quero dizer, B, é que nesse tempo todo eu sempre quis dizer tanta coisa, mas nunca consegui, e agora não adianta mais.
B: Pois diga, agora. É pra isso que servem esses diálogos. Se são esses os demônios que você precisa exorcizar, então comece. Não queria conversar? Pois estamos conversando. Fale o que tem pra falar.
A: Agora não adianta mais.
B: De que adianta conversar, então, se ainda falta coragem?
A: ...
B: Eu vou embora.
A: Espera.
B: Por que esperar? Nada do que falamos vai adiantar. Ainda mais que você não fala nada.
A: Tá, calma, espera. Senta, que eu vou explicar direito.
B: ...
A: Veja, o problema não é falta de coragem. Ou melhor, não é exatamente a coragem que está em jogo. É uma questão de respeito. Talvez excessivo, mas respeito. O que acontece é que eu não me sinto no direito de invadir sua esfera de vontades com as minhas. Eu ressinto isso como de uma agressividade extrema, e me torturo por isso. Então não faço. E toda vez que deixei acontecer, o resultado foi desastroso. Não é tanto medo ou falta de coragem, quanto é uma parte necessária do meu auto-controle.
B: Pois desfaça-se desse auto-controle. Desse respeito excessivo. Até quando você vai se flagelar com essas facas que não deveriam ser suas? Só se machuque com os golpes que te cabem, e cada um cuida da sua dor.

18 de nov. de 2010

Embaraço das tecelãs

Trançaram-lhes as mãos, e já não era mais possível tecer as linhas que costuravam-nos o destino. Embaraçadas, as tecelãs se desculpam; e enquanto tentam desfazer os nós, fios e fios passam desencontrados, sem quem os dê direção. Em meio a esses, eis que um resolve timidamente embaralhar-se a outro, também perdido logo ali. E perdidos, ambos vagam a esperar que resolvam-se as mãos das tecelãs, para enfim os costurar.

5 de nov. de 2010

8 minutos

B: Você não devia ter feito aquilo.
A: Por que?
B: Porque não. Porque é errado.
A: Errado?
B: Sim, errado. Não era dia, hora, lugar. Estava tudo tão errado que me recuso a explicar.
A: E por que você fez aquilo?
B: Como é?
A: Sim, oras. Você fez. Eu fiz, você fez.
B: Não inverta a situação. A culpa é sua.
A: Culpa? E desde quando há culpa?
B: Desde que você fez algo errado.
A: Eu não fiz nada de errado.
B: Claro que fez! Você não devia ter feito aquilo naquela hora, daquele jeito.
A: Fiz como sei fazer, quando achei que devia. Não há erro.
B: Não estamos mais falando de erro. Estamos falando de culpa.
A: Só há culpa se há erro, e só há erro se há regra.
B: O que você fez foi errado.
A: Por que a pressa em julgar?
B: Porque você errou. Deve assumir a culpa.
A: Não tenho culpa. Não me sinto culpado.
B: Pois deveria.
A: Você se sente?
B: Por que me sentiria?
A: Eu fiz, você fez.
B: ...
A: Não precisa assumir.
B: ...
A: Não precisa sentir também. Não há culpa. O mundo não é assim tão racional. Motivos, razões, regras e lógicas não são obrigatórias. Certo e errado só existem da perspectiva de quem quer julgar, e quem julga se torna mais observador do que personagem da sua própria história.

2 de nov. de 2010

10 Minutos


A: Precisamos conversar.
B: Estou aqui. Diga.
A: Não, você não entendeu. Precisamos conversar, assim, de verdade, sabe? Sentar cara a cara e falar.
B: Estamos aqui, não estamos?
A: Não é bem disso que estou falando...
B: E que tanto você tem a me dizer? Pare de estimular minha curiosidade.
A: Não é isso, se acalme. Só precisamos... de um tempo... um tempo, juntos, sentados, conversando.
B: E por que esse desespero?
A: Não é desespero. Eu só quero conversar. Preciso. Precisamos, digo.
B: Quem disse que eu preciso? Ou que você precisa? Você quer, é diferente.
A: Não, eu preciso. Mesmo. E você também, acho.
B: Ah, além da curiosidade você vai cutucar minha paranóia também?
A: Desculpa.
B: ...
A: ...
B: ...
A: Então... Precisamos conversar.
B: Fale de uma vez. Estamos os dois aqui já há um bom tempo e tudo o que você fez foi sentar aí com o olhar perdido, soltando suspiros e dizendo que precisa conversar.
A: Precisamos.
B: Precisamos, que seja. Desembucha de uma vez, que já estou me irritando.
A: Sei lá.
B: Como assim sei lá? Você não disse que precisava conversar? Pois comece.
A: Não precisamos conversar. Quer dizer, precisamos. Só não assim...
B: ...
A: Não tenho nada a dizer, só preciso conversar.
B: ...
A: Desculpa.
B: ...
A: Não, desculpa não. Não tenho porque pedir desculpa.
B: Você se desculpa por tudo.
A: Sempre.
B: Inseguro.
A: Sim, inseguro. Nunca neguei.
B: ... pois pare.
A: Eu tento.
B: Tente mais.
A: Prometo.
B: Viu? Estamos conversando!
A: É. Ou quase isso.
B: ...
A: Eu preciso conversar. Como antes, sabe? Como quando não precisava tatear ou pensar nas palavras. Preciso conversar como se estivesse respirando. Para poder respirar. Conversar me ajuda a respirar. Com você, no caso. Algo assim.

29 de set. de 2010

Maquiagem

Emoldurado no espelho, assisto o sangue escorrer dos cortes recém abertos em meu rosto. Espero o corpo acostumar-se à dor, a ponto dela simplesmente fazer parte, como respirar ou caminhar. Lavo o sangue, deixando as lacerações expostas. Uma dúzia delas. No espelho, meu rosto cubista finalmente me agrada; já posso sair.

31 de ago. de 2010

Life is a loop

Inspira.
Expira.
Inspira. Expira.
Inspira; expira.
Inspira, expira
inspira expira
inspiraexpirainspiraexpirainspiraexpira

CALMA!


Devagar agora.

Foco. É preciso foco.
E controle.


Respiro pesadamente, como fosse denso o ar, quase sólido, e fosse preciso esforço para fazê-lo adentrar-me as narinas, fluir pela faringe e laringe, descer a traquéia e dividir-se nos brônquios para inundar o pulmão.


Devagar.

Concentração.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Meses sem escrever. Meses a fio com palavras engasgadas, impulsos acorrentados, desesperos contidos e desejos vitimados por uma inação crônica. Meses, e ainda que houvesse tanto a expressar, uma imensidão de nada cercava, coibia, reprimia. Meses, e nem mesmo a retomada do controle poderá recuperar o que já não foi expressado. E nenhum grau de liberdade me permitirá expressar o que deveria, ainda que tenha plena consciência de que a internalização me trará de volta a este ponto.

Meses sem escrever, e nada do que acumulou parece querer sair. Não mais do que deseja simplesmente estar, e ser exatamente igual, sem emergir do subconsciente para a racionalidade mundana do tempo, começo, meio e fim.

Talvez escrever já não tivesse mais a relevância de outrora, e talvez exista, mesmo, um tempo para tudo e para todos. Mas toda vez que se pegava acreditando nisso, sua respiração desesperava, perdia o controle e o foco, e precisava começar tudo de novo.

25 de jun. de 2010

Chuva

Chovia e brindávamos, com vinho e abraços.

As roupas enxarcadas pelo chão, e nosso calor nos aquecia. Lá fora a chuva, aqui dentro o suor; e enxarcados, entorpecidos e extasiados, conversávamos em uma língua própria, mistura de linguagem corporal, semi-palavras, gemidos e espasmos.

Não muito longe, uma rosa que esqueci de entregar flutuava sem objetivo sobre a água da chuva. Um carro passa e joga a água, suja das ruas e perfumada da rosa, sobre as pessoas que esperam o ônibus.

"Foi lindo, romântico, perfeito, mas não foi apaixonante."

A rosa escorreu pelos esgotos, e morreu sem objetivo. Assim como eu, você, a garrafa de vinho, as pessoas que esperavam o ônibus, e a chuva.

20 de jun. de 2010

The Book

"Look", said the boy, "Destiny left his book over there! Let's read it!" Trembling, the girl took a step back and said: "No! We shall not do that! Destiny is probably close, and if he sees us reading his book... Oh... I don't even want to think about it."

The boy kept going. "Come, quick!", he said, as he walked towards the book, sitting over a big rock next to the river. As they approached, the book opened by itself, to the exact page where their story was written. The girl was afraid, and hid behind a tree, looking around to see if anyone showed up. The boy just kept reading, interested on what was going to happen to them. And he read it to the end of the page, where he found out that they would follow different ways, never getting to meet again.

The girl said: "We've gone too far, now. Let's go, before anything bad happens.". She ran away before she could see the boy's face covered up with tears. Despaired, he cut himself and started re-writing the story, using his blood as ink. He wanted a different end, and that was his only chance...

After this day, nobody ever heard of them any more, but legends tell of a boy and a girl condemned to live together forever, without ever finding their way back home, or even meeting other people.

And they lived happily ever after.

13 de jun. de 2010

Fobia Social (Fonte: Wikipedia)



O transtorno ansioso social, também conhecido como transtorno da ansiedade social, fobia social ou sociofobia, é uma síndrome ansiosa caracterizada por manifestações de alarme, tensão nervosa e desconforto desencadeadas pela exposição à avaliação social — o que ocorre quando o portador precisa interagir com outras pessoas, realizar desempenhos sob observação ou participar de atividades sociais. Tudo isso ocorre até o ponto de interferir na maneira de viver de quem a sofre.


As pessoas afetadas por essa patologia compreendem que seus medos são irracionais, no entanto experimentam uma enorme apreensão ao confrontarem situações socialmente temidas e não raramente fazem de tudo para evitá-las. Durante as situações temidas, é freqüentemente presente nessas pessoas a sensação de que os outros as estão julgando e tais sujeitos não raramente temem ser reputados muito ansiosos, fracos ou estúpidos. Por conta disso, tendem freqüentemente a se isolarem.


Este distúrbio não deve ser considerado uma forma exagerada de timidez, uma vez que os prejuízos incapacitantes que causa à adaptação social não são atenuados sem auxílio ou tratamento. Um estudo recente mostrou que 13% dos brasileiros sofrem deste transtorno.




Sintomas


Os sintomas da fobia social, experimentados pelos vários indivíduos em situações sociais, são, dos muitos, os seguintes:
  • Ansiedade, às vezes associada também aos ataques de pânico.
  • Ansiedade antecipatória, isto é, aquela que surge ao se encontrar na situação temida.
  • Erubescência.
  • Suor excessivo, suando frio (especialmente nas mãos).
  • Palpitações ou calafrios. (Raro)
  • Temor de enrubescer-se ou balbuciar.
  • Temor de ser observado e avaliado negativamente por outros.
  • Temor de ser visto como fraco, ansioso, louco ou estúpido.
  • Temor de que as próprias opiniões possam não interessar aos outros.
  • Temor de não estar em estado de comportar-se de modo adequado em situações sociais.
  • Tendência a evitar situações sociais que o colocariam em incômodo.


Situações temidas
  • Olhar as pessoas nos olhos.
  • Iniciar uma conversa.
  • Encontrar-se com pessoas desconhecidas pelo qual são atraídas.
  • Fazer amizades.
  • Falar com pessoas de autoridade.


Enfrentamento


Um dos grandes problemas da fobia social é que os fóbicos reconhecem que seus medos são exagerados, excessivos ou irracionais, tendo plena consciência de que seu sentimento não corresponde à realidade mas são incapazes de lidar com a situação. Na fobia social, o consciente e o bom senso não são suficientes para resolver o problema, sendo este de caráter orgânico/cognitivo e fora do alcance de uma decisão pessoal do paciente.


Essa batalha mental traz um grande desgaste emocional e este é ainda mais agravado quando outras pessoas confrontam a falta de atitude do fóbico. Isso é observado na psicologia, quando o fóbico é estimulado a enfrentar o problema, e que resulta na piora do estado mental, se isolando ainda mais após a experiência. Experiências confrontantes resultam na totalidade em mais isolamento.




Incapacitação


A fobia social incapacita a pessoa para o estudo, trabalho e demais atividades sociais privando o individuo de conquistas elementares na vida como amizades, relacionamentos amorosos, formação de uma família e crescimento profissional.

5 de mai. de 2010

Álbum de figurinhas



Hoje queria uma nova incerteza; uma dúvida fresca, que eu não saiba a ausência de resposta.


Uma insegurança ausente de mim, tão cheio de certezas das minhas dúvidas.


Quero duvidar o que me é externo, e desacreditar uma realidade menos sólida.


Um lugar em que possa trocar inseguranças repetidas que já não me completam mais.

3 de abr. de 2010

Sobre o tempo

Pra que relativizar, quando a realidade é tão absoluta quanto um suíço, atômico, cheio de verdades precisas e pontuais? Não há como, e não há tempo. Não pra mim. Não pra nós.
There's a time for us
Someday a time for us
E não há tempo pra mais ninguém. As pessoas, as horas, as horas das pessoas, e à medida que elas passam, ponteiros se acertam, se erram, e horas outrora erradas se fantasiam de antes-da-meia-noite.
While these seconds turn these minutes into hours of the day
Sapato de cristal e carruagem esperando a hora, e todos estão atrasados. Alguns fora de fuso, alguém no passado, eu fora de hora e ninguém no futuro. E a abóbora espera do lado de fora da festa.
"You cannot find peace by avoiding life, Leonard."
Can I find life by avoiding peace?

20 de mar. de 2010

Pessoas Verbais ou Como Foder Minha Cabeça

Sendo tão cru quanto a vida insiste em ser comigo:
A Softer World
Não achei que fosse possível, mas as tecelãs conseguiram arrancar mais uma piada no encerramento desse ciclo. E não uma piada qualquer, mas uma piada que vai me acompanhar por um tempo ainda, reforçando a irônica arte de foder minha cabeça.

De um jeito errado, eu estava certo sobre toda a percepção que tinha da situação. Não era um problema de tempo, mas de pessoa verbal. Conjugar nunca foi meu forte, então não conjugo que é pra não correr o risco de confundir pretérito com futuro perfeito.

O ciclo caminha para mais um fim. Apoteótico. Catastrófico. Hiperbólico. Pleonástico. E por algum motivo, apesar de não mais surpreender, incomoda. Não chega a doer, mas engasga. Não traz às lágrimas, mas pesa o peito num aperto sem fim. E cansa.

E já nem espero que haja quebra. O ciclo é minha sina, e de longe, assisto os que circulam ao meu redor, desejando um lugar onde o ciclo seja meu.

11 de mar. de 2010

Sós

E, sendo sós no mundo eu e você, caminharíamos pelas ruas das cidades, lado a lado. Observaríamos prédios, a decidir em qual entrar para apreciar a vista. E poderíamos escolher quaisquer, pois não haveria quem nos barrasse. Nem mesmo o tempo seria inimigo, pois o tornaríamos eterno quando posto sob nosso controle. E controlaríamos todas as leis do universo. A gravidade, reduziríamos, para levitar e depois voar. E aumentaríamos a velocidade da luz, para ver as estrelas em tempo real. E com o passar do tempo – ao nosso comando –, ganharíamos controle sobre as formas das coisas. Faríamos, dos postes, flores, e todas as flores maiores que as árvores, por serem mais belas. Ganharíamos, ainda, controle sobre a essência das coisas, e o ouro valeria menos que uma pétala. Deixaríamos de lado o egocentrismo, e valeríamos, também, menos que uma pétala, porém, infinitamente mais que todo o ouro do mundo. Até chegar o dia em que perceberíamos que este controle não nos é externo. E veríamos que não mudaram as coisas, mas nós em relação a elas. Olharíamos, por fim, para dentro de nós mesmos, e veríamos um ao outro. Então, saberíamos que, ainda que nosso Éden seja de concreto, somos Adão e Eva, eternamente no paraíso, pois apenas a nós cabe dizer o que é ou não é pecado.

8 de mar. de 2010

8

Hoje eu queria ser impessoal. Queria escrever um texto que expressasse sentimentos universais. Um texto no qual todos encontrassem parte de si.

Por horas, pensei em tudo que teriam a dizer sobre as mulheres. Horas em vão. Consigo identificar os pensamentos e sentimentos d’outrem, mas não consigo organizá-los em minha cabeça a ponto de formar um texto.

Eu poderia recorrer a autores. Livros de poesia, romances, ficção, biografias e até livros técnicos de psicologia e anatomia, que descrevem a mulher sob inúmeros pontos de vista. Infelizmente, nenhum deles, e nem mesmo todos eles somados, chegam perto do que as mulheres realmente são.

Indescritíveis. Talvez este fosse o adjetivo mais adequado, e ainda assim não bastaria. Indescritíveis, sim, mas muito mais que isso. Indescritivelmente belas, indescritivelmente graciosas, indescritivelmente misteriosas... Enfim, indescritíveis as mulheres e todas as suas infinitas qualidades. Indescritíveis todas, e também cada uma delas.

Por fim, eu poderia recorrer a uma musa, como muitos já fizeram, e como todo artista faz. Assim, escreveria um texto pessoal, em homenagem à minha musa, extendendo a homenagem a todas as mulheres do mundo. Porém, tudo que escrevo, sempre, cada letra de cada palavra de cada frase, é em homenagem à minha musa, e seria injusto com os outros textos que já escrevi se fizesse deste um especial.

Desisti. Desisti e, ainda assim, escrevi um texto. Insuficiente, mas ainda assim uma homenagem a elas. Insuficiente como são as palavras para descrevê-las. Insuficiente como são os homens para fazer-lhes jus. Insuficiente como é o universo para limitá-las.

Insuficiente como é o dia 8 de março para homenageá-las.

8 de março, Dia Internacional da Mulher.

7 de mar. de 2010

22 de fev. de 2010

Elucubração I

Decidiu que ia morrer. Respirou pesadamente, pensou sobre sua decisão e sua respiração fluiu leve como há muito não sentia. Iria morrer e ninguém ousaria impedi-lo, pois aquela era sua decisão, soberana e certa. Não cometeria suicídio. Sabia que agir não era seu estilo, e não mudaria isso tão banalmente. Tampouco causaria um acidente ou procuraria ajuda, já que envolver terceiros tornaria a decisão coletiva. Apenas iria morrer, como vinha fazendo antes à revelia. Tentou se lembrar do momento em que viver lhe havia sido imposto; o momento em que de fato viver pareceu-lhe de suma importância. Parou quando entendeu que, com isso, buscava um culpado, o que também dividiria a responsabilidade. Estava tão seguro que queria a decisão apenas para si; nada o obrigaria a compartilha-la. Livrar-se do peso de viver era obviamente a decisão correta, e não precisaria decidir mais nada. Naquela noite, dormiu tranquilo. E na seguinte, e na outra, e depois. E morreu, sabe-se lá quando ou como, porém decidido.