22 de fev. de 2010

Elucubração I

Decidiu que ia morrer. Respirou pesadamente, pensou sobre sua decisão e sua respiração fluiu leve como há muito não sentia. Iria morrer e ninguém ousaria impedi-lo, pois aquela era sua decisão, soberana e certa. Não cometeria suicídio. Sabia que agir não era seu estilo, e não mudaria isso tão banalmente. Tampouco causaria um acidente ou procuraria ajuda, já que envolver terceiros tornaria a decisão coletiva. Apenas iria morrer, como vinha fazendo antes à revelia. Tentou se lembrar do momento em que viver lhe havia sido imposto; o momento em que de fato viver pareceu-lhe de suma importância. Parou quando entendeu que, com isso, buscava um culpado, o que também dividiria a responsabilidade. Estava tão seguro que queria a decisão apenas para si; nada o obrigaria a compartilha-la. Livrar-se do peso de viver era obviamente a decisão correta, e não precisaria decidir mais nada. Naquela noite, dormiu tranquilo. E na seguinte, e na outra, e depois. E morreu, sabe-se lá quando ou como, porém decidido.