29 de nov. de 2009

Amparo

Pois nací nunca vi Amor,
e ouço del sempre falar.
Pero sei que me quer matar,
mais rogarei a mia senhor
     que me mostr'aquel matador,
     ou que m'ampare del melhor.

Pero nunca lh'eu fige ren
por que m'el haja de matar;
mais quer'eu mia senhor rogar,
polo gran med'en que me ten,
     que me mostr'aquel matador,
     ou que m'ampare del melhor.

Nunca me lh'eu ampararei,
se m'ela del non amparar;
mais quer'eu mia senhor rogar,
polo gran medo que del hei,
     que mi amostr'aquel matador,
     ou que mi ampare del melhor.

E pois Amor ha sobre mí
de me matar tan gran poder,
e eu non o posso veer,
rogarei mia senhor assí
     que mi amostr'aquel matador,
     ou que mi ampare del melhor.
("Pois nací nunca vi Amor" - Nuno Fernandes Torneol)

2 de nov. de 2009

Labirinto

Ando vendo monstros. Monstros que guardam portas atrás das quais escondo experiências que não quero mais viver. Seres que povoam os corredores do meu subconsciente, e saltam da escuridão a me paralizar de medo. Protegem-me, apesar dos pesares. E sentindo-me protegido, crio mais deles a cada experiência que desejo esconder. E são tantas. E tantos são os monstros, que já não sei mais andar pelos corredores sem me deparar com um. Alguns que já havia esquecido, que já havia até mesmo perdido o controle. E o meu corredor bem protegido tornou-se meu labirinto, guardado por várias dezenas de minotauros enfurecidos com minhas tentativas de abrir portas. Com isso, meu caminhar é lento, cauteloso, e às vezes nem andar é. À medida que as luzes se apagam, o labirinto se apresenta mais perigoso, e eu mais amedrontado. E esse medo me faz perdido, sem conseguir ao menos imaginar que em algum canto ermo possa haver uma nova porta, desprotegida e pronta para se abrir para um mundo onde poderei deixar os monstros para trás.