10 de dez. de 2006

A Ida 2 - O Retorno


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1.
A pouco menos de quatro meses atrás, escrevia, diretamente dos Estados Unidos, que estava voltando para casa. Ingenuamente, acreditava em alguma forma de ação do destino sobre este retorno, não só imaginando que ele traria calma à minha inquietação, mas mais que isso, com o pensamento de que a tal casa me proveria um quarto com vista para o futuro.
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2.
O quarto, nos fundos, me põe olhar o passado; não com arrependimento, mas com saudade de um tempo em que a idéia de ir e vir envolvia mais liberdade que desprendimento. A inquietação segue, movida pelo mesmo combustível, e cresce na pista menos tortuosa que tenho sob meus pés.
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3.
Neste quadro, há ainda as incertezas, que batem à porta hora ou outra. Quando abro, quase chego a vislumbrar um futuro vindo em carga contra a frente da casa, disposto a derrubar as paredes que me prendem. Não chega a ser uma ameaça, pois a mim é dada a opção de fechar a porta e voltar à janela, mas incomoda saber que em algum momento vou precisar sair aqui de dentro.

4 de dez. de 2006

Show

____ Bandas: ruído/mm + Heitor e Banda Gentileza
____ DJs: Sol + DW
____ Quando: 08/12/2006 (Sexta-Feira), 22h
____ Onde: Cosmopolitan (Av. Batel, 906)
____ Quanto: R$ 7,00

26 de nov. de 2006

(Lou)Cura?

Está amanhecendo, e talvez esteja tudo errado. É sempre bom perceber que mesmo manco, o universo vence sua luta de cada dia, e continua sendo número um nas paradas de todo ele mesmo. Amanhece e, por algum motivo, parece-me que os pássaros cantam. Talvez sejam gemidos. Antes fossem, talvez. Está amanhecendo e está escuro, mas a perspectiva é de mudanças drásticas nas próximas horas, se tudo continuar correndo corretamente. Os cães já estão acordados desde que nasceram. Quando não se tem sete vidas, deve-se aproveitar. Gatos dormem. Pra caralho. No mundo todo, gatos gordos dormem sob um facho de sol que entra pela janela da cozinha durante a manhã. À tarde, mudam para a sala. Chega de animais. Quando acordar, vou comer meu almoço pensando no bicho que morreu para servir meu prato. Ter pena é hipocrisia. Depois vou ajudar velhinhas a atravessar a rua por módicos R$100,00. A bondade gratuita é mais hipócrita que a pena. Acendo mais um copo de uísque com gelo, e o gelo atrapalha o fogo. Tudo que soa sincero deve estar fora dos eixos. Talvez esteja tudo errado, e ainda assim, amanhece.

20 de nov. de 2006

(Re)Passado

Frustração: O sentimento experimentado por alguém que, por incapacidade de vencer um determinado obstáculo, não consegue realizar o objetivo a que se propôs. Ela será tanto maior quanto menor for a segurança do indivíduo e quanto mais forte for a atração exercida pelo objetivo. (retirado de algum lugar da internet)
É engraçado ter novidades, tinha perdido costume. Mais engraçado ainda é o quanto esperam que novidades sejam boas, quando podem não ser (e no meu caso, normalmente não são). E chega a ser trágico que, depois de tanto tempo, tenha visto uma ponta de confiança em mim, e ela só tenha servido para tornar o episódio mais incômodo.
No fim, ficou o recado que eu já sabia: otimismo gera frustração. Obrigado por me lembrar disso, vida.

Se o passado serve de aprendizado, parece que estou preso na mesma série.
Pior: no mesmo dia de aula.

16 de nov. de 2006

Mais passado

Como o presente não se apresenta atraente o suficiente para merecer um post, sigo falando de passado. Não um passado específico, mas uma coleção de passados mal resolvidos, que trato com tanto carinho. "Por que guardá-los?", alguns perguntariam, e a resposta vem fácil: "Fazem-me sentir vivo." São estas pequenas cordas desamarradas, que de tempos em tempos me pego tentando amarrar, que dão um pouco de sentido a essa vida tão sem perspectiva.

Ainda outro dia um comentário neste blog perguntava: "O que você perdeu no passado que procura algo lá?". A cada dia chego mais próximo da conclusão que realmente perdi alguma coisa: o futuro. Talvez eu queira apenas remontar o passado, tentar efetivamente aprender com ele; talvez eu queira mesmo encontrar um futuro não vivido e tentar dar seqüência. Talvez lidar com estas cordas torne minha caminhada mais lenta, presa a um emaranhado de memórias, mas me é tão natural a manipulação delas que acho impossível ser errada. Diz a lenda que o caminho correto é sempre para a frente, mas quem acredita em lendas?


A vida segue, atando e desatando nós, e provavelmente deixando mais pontas soltas para lidar no futuro. A coleção aumenta, e por algum motivo sórdido, me orgulho disso. Assuntos pendentes têm um brilho especial, um valor romantizado de "bons tempos", que podem ser retomados a qualquer momento, transformados em presente - ou até mesmo futuro. Se resolvidos, seriam apenas memória, uma caixinha de fotos, e nem scanner e Photoshop ajudariam a afetar.

Pode ser que isso signifique não ter exatamente um passado, mas sim apenas um presente que se distanciou, mas não importa. Tenho meu apego, minha coleção, e como fosse uma coleção de brinquedos, a cada vez que abro a caixa brilham os olhos, colore-se o mundo e tudo volta a ser mágico. E se o brilho se desfaz em seguida, não me preocupo. Fecho a caixa com cuidado, pois sei que ela se abrirá novamente.

No futuro, mais passado.

8 de nov. de 2006

Nostalgia

Dias nostálgicos e pensativos, estes últimos.

Não só pra mim, mas também para algumas pessoas ao meu redor; talvez fruto de reencontros e despedidas, talvez a proximidade do final do ano, ou talvez o mundo não esteja oferecendo entretenimento suficiente para nos desviar de pensamentos e saudades em geral.

O passado tem cada vez mais importância que o futuro, como fôssemos todos idosos vivendo já os descontos, querendo rever familiares e amigos de infância, enquanto lidamos com o Alzheimer e as dores. E sentimos falta de um tempo em que não vivemos, procuramos e somos pessoas que já não existem mais.

A geração que não foi... O mundo lá adiante e nós aqui, esperando o próximo bonde. Difícil não perceber a inexistência de uma geração inteira, perdida a procurar um sentimento negativo qualquer para se apegar, não para justificar a deprê, mas por ser a única coisa que resta. Angústia, ausência de identidade, falta de foco, indecisões, toda uma geração sem realização alguma, já sendo engolida pelas seguintes que cresceram observando nossa passividade e fazendo planos de dominação.

Bons tempos quando ainda dava pra acreditar em futuro!

7 de nov. de 2006

Zero

Blog novo.
Novo endereço, novo servidor, novo layout, novos posts, as mesmas memórias, os mesmos sentimentos, o mesmo estilo, enfim, tudo novo, exceto o autor. O BloGui ainda está lá, com tudo o que houve até aqui registrado. Não pretendo deletá-lo, mas também não pretendo mais divulgar o endereço. Esta é a última referência oficial, e daqui por diante as páginas daquela história começarão a amarelar como livros velhos nas estantes, vez ou outra abertos por ávidos consumidores de nostalgia. Com o tempo, as páginas de despedaçam e se torna mais e mais difícil manusear, ficando ao encargo de restauradores recuperar as informações contidas ali.
O fato é que estas informações viajarão para sempre comigo. Apesar do novo início, a estrada que percorri define minha posição atual, e por mais que tente olhar para a frente, olho de um ponto de vista definido pelo caminho que me trouxe aqui.
O momento "zero" deste novo blog é apenas um momento intermediário de uma história maior, disfarçado de novidade. Coisa pra inglês ver, apesar de estar em uma língua que poucos deles entenderiam. Mais ou menos como o Big Bang é um recomeço, e não o começo da história do universo, obviamente nas devidas proporções. Não tive que explodir nada pra fazer esse blog, e nem pretendo.
O título diz respeito a um dos principais desejos humanos, e obviamente um grande desejo meu (já que sou humano, até que me provem o contrário). A cure for pain, uma cura para a dor, carrega consigo parte do meu histórico pessoal, é claro, afinal de contas, não criei esse blog depois de uma surra, mas sim depois de 24 anos e mais alguns meses de vida, mas também tem característica universal, diz da vida de todo mundo, do bebê que chora a fome em busca da mamadeira ao idoso que vê na morte a cura final para suas dores, passando pelo jovem que vê o primeiro amor em pedaços e pelo adulto que vê a carreira acabar. Não que eu vá sanar as dores do mundo, minha intenção é a de expor agruras pessoais e d'outrem, profundas e mundanas, santas e profanas. A cura é jogar tudo no papel (ou na tela) e mandar para o blog, mas a cura também são os comentários sobre o texto, e a cura também são os sentimentos opostos da dor, que também farão parte da coleção de textos deste novo endereço.
Então está feito, um post de abertura como deve ser, introdutório, explicativo, descritivo. O futuro nos reserva mais passado, e com ele mais nostalgia, mais páginas amareladas pelo tempo, mais memórias, mais recomeços, mais dores, mais vírgulas, mais reticências e mais listas de exemplos ruins. Oficialmente, entra no ar meu novo blog, mais um zero à esquerda neste oceano binário que é a internet.

Em breve, posts.