B: Oi?
A: É. Como se escondendo a faca eu a machucasse mais do que derrubando-a no seu pé.
B: E que faca é essa que você tem escondida?
A: São tantas que já não me cabem mais. Cada uma que ia aparecendo, querendo ser arremessada, e eu não conseguia., eu me controlava, me forçava ao silêncio em nome de um pacto de não agressão, e calmamente cravava na minha carne, para esconder. De tempos em tempos elas caem, assim, sem querer, e acontece o que aconteceu.
B: Que metáfora horrível.
A: Como?
B: Essa das facas. É horrível. É como se tudo que você pudesse ou quisesse falar fosse uma agressão, que você internaliza.
A: Tudo é uma agressão. Quando eu nego meu impulso, me agrido. Mas quando agrido os outros por ceder aos meus impulsos, arrisca doer ainda mais.
B: Você faz das palavras, facas.
A: Era só uma metáfora. O que quero dizer, B, é que nesse tempo todo eu sempre quis dizer tanta coisa, mas nunca consegui, e agora não adianta mais.
B: Pois diga, agora. É pra isso que servem esses diálogos. Se são esses os demônios que você precisa exorcizar, então comece. Não queria conversar? Pois estamos conversando. Fale o que tem pra falar.
A: Agora não adianta mais.
B: De que adianta conversar, então, se ainda falta coragem?
A: ...
B: Eu vou embora.
A: Espera.
B: Por que esperar? Nada do que falamos vai adiantar. Ainda mais que você não fala nada.
A: Tá, calma, espera. Senta, que eu vou explicar direito.
B: ...
A: Veja, o problema não é falta de coragem. Ou melhor, não é exatamente a coragem que está em jogo. É uma questão de respeito. Talvez excessivo, mas respeito. O que acontece é que eu não me sinto no direito de invadir sua esfera de vontades com as minhas. Eu ressinto isso como de uma agressividade extrema, e me torturo por isso. Então não faço. E toda vez que deixei acontecer, o resultado foi desastroso. Não é tanto medo ou falta de coragem, quanto é uma parte necessária do meu auto-controle.
B: Pois desfaça-se desse auto-controle. Desse respeito excessivo. Até quando você vai se flagelar com essas facas que não deveriam ser suas? Só se machuque com os golpes que te cabem, e cada um cuida da sua dor.
Isso me fez lembrar de algo q eu estava pensando outro dia - empatia excessiva. Sabe? Tem coisas que vc precisava dizer pras outras pessoas, mas o fato de vc saber como ela se sentiria te fere automaticamente com o pensamento de dizer aquilo pra ela, e vc não diz. Vc é tão capaz de se colocar no lugar dos outros q se torna condescendente demais. Será que tem a ver com suas facas?
ResponderExcluirTaí, gostei. Mais um blog pra acompanha - e comentar. :)
ResponderExcluirEu entendo perfeitamente essa metáfora e é assim mesmo. Na verdade, me soa como uma faca de dois gumes, porque alguém sempre sai ferido, as brechas são poucas ou estreitas demais para que consigamos escapar ilesos. Mas é uma boa metáfora, de qualquer forma.
@circunstanciaqualquer
ResponderExcluirLendo seu comentário, lembrei de uma música do Bravery, chamada Every Word Is a Knife in My Ear.
Segue um trecho:
Every word from your mouth is a knife in my ear
Every thought in your head is like poison to hear
A fool is a devil and a devil's a fool
With a fork-tongue needle and you got us all fooled
A monkey doing tricks and we couldn't resist
If this isn't evil then I don't know what is
@fadamariposa
ResponderExcluirQuando a situação é com terceiros, tendo a ser sincero além da conta. Prefiro dizer o que a pessoa precisa ouvir a simplesmente dar um tapinha nas costas, passar a mão na cabeça e dizer umas palavras de auto-ajuda. Mas quando tenho que escolher entre machucar alguém e me machucar, acabo escolhendo a segunda.
Não que seja algo positivo, porque acabo internalizando muita coisa e às vezes até deixando passar oportunidades por medo de "invadir", "agredir" ou simplesmente "desagradar"...
ah que saudades que eu tava de ler suas palavras.. quem sabe voltamos as nossas discussões sobre o tudo e o nada!
ResponderExcluirXD
beijos..