11 de mar. de 2010

Sós

E, sendo sós no mundo eu e você, caminharíamos pelas ruas das cidades, lado a lado. Observaríamos prédios, a decidir em qual entrar para apreciar a vista. E poderíamos escolher quaisquer, pois não haveria quem nos barrasse. Nem mesmo o tempo seria inimigo, pois o tornaríamos eterno quando posto sob nosso controle. E controlaríamos todas as leis do universo. A gravidade, reduziríamos, para levitar e depois voar. E aumentaríamos a velocidade da luz, para ver as estrelas em tempo real. E com o passar do tempo – ao nosso comando –, ganharíamos controle sobre as formas das coisas. Faríamos, dos postes, flores, e todas as flores maiores que as árvores, por serem mais belas. Ganharíamos, ainda, controle sobre a essência das coisas, e o ouro valeria menos que uma pétala. Deixaríamos de lado o egocentrismo, e valeríamos, também, menos que uma pétala, porém, infinitamente mais que todo o ouro do mundo. Até chegar o dia em que perceberíamos que este controle não nos é externo. E veríamos que não mudaram as coisas, mas nós em relação a elas. Olharíamos, por fim, para dentro de nós mesmos, e veríamos um ao outro. Então, saberíamos que, ainda que nosso Éden seja de concreto, somos Adão e Eva, eternamente no paraíso, pois apenas a nós cabe dizer o que é ou não é pecado.

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